Ao Flávio.
Antigamente, no interior da Bahia, pouquíssimas cidades dispunham de Padre. Uma vez por ano, ocorriam as "DESOBRIGAS": O padre de determinada paróquia visitava certo número de cidades, vilas, povoados, assistindo suas ovelhas, celebrando casamentos e batizados, viajando em lombo de burro, com um "CAMARADA", espécie de pajem que se encarregava de conduzir a besta que carregava um par de malas com os paramentos e demais utilidades para os trabalhos do padre, desempenhando também o mister de sacristão.
Padre Pedro era pároco em Brotas e prestava assistência à minha pequenina Santo Inácio, onde era hóspede do meu saudoso pai que adorava recepcionar os seus amigos, hóspedes e fregueses com uma "ABRIDEIRA", como ele designava uma dose de boa caninha.
Quando da primeira hospedagem de Padre Pedro na residência dos meus pais onde era localizada sua casa comercial, logo que o camarada terminou seus afazeres - desarrear os animais e mandá-los para o pasto, colocar as malas no aposento do padre - meu pai chamou-o para a tradicional "abrideira" que o camarada/sacristão aceitou com muito gosto. Após saborear uma segunda dose, meu pai perguntou-lhe:
- E o padre, bebe?
O camarada respondeu-lhe: convide-o.
Segue-se então o seguinte diálogo:
- Padre Pedro, aceita tomar uma abrideira?
- Não, seu Pimentel, obrigado, eu não bebo.
- Não faz mal não Padre, pra rebater o sol.
Houve mais umas duas ofertas e outras tantas recusas mas finalmente o bom Padre pegou o copo, degustou a caninha com gosto como qualquer bom consumidor e fez o seguinte comentário:
- Seu Pimentel, o Sr. obriga até as pedras.
É isso aí, Flávio, qual o meu querido pai, você obriga até as pedras...